terça-feira, 3 de outubro de 2017

Onde reside a beleza?


"Onde reside a beleza?" A pergunta veio de um senhorzinho, lá pelos seus 70, e surgiu estrondosa e repentina em sua sutileza. Quem manda a gente sentar no banco da praça, assim, do nada.
"Bom dia, como vai o senhor?" Louco para não responder. Ele não diz bom dia. "Onde reside a beleza?" Insistente. Eu estaco. Testa franzida. Um tanto impaciente.
"O senhor está com algum problema? Posso ajudar?" Não gostei do meu tom. Não quero mais ser isto. Um poço de ranço e falta de tato. Ele se repete. "Onde reside a beleza?" Eu engasgo. Soluço. Pigarreio.
Segundos. Mais de um minuto, talvez. Silêncio.
"Praia do Cassino. Meninas morenas. Sotaques 'abaianados'. Deu saudade. Há tempos não piso lá." Nem sei de onde saiu. Acho que respondi por responder. Para encerrar o assunto.
O velhinho me encara. Olhar de avô. Ternura até as profundezas.
"Viaja até lá, passa uns dias". Ele diz calmamente. "Esse teu olho triste está pedindo. Faz para o teu coração". Ele se levanta, trêmulo e trôpego, com sua bengalinha de marfim.
Eu fico acompanhando sua partida. Segurando o choro.

11/05/2013