quinta-feira, 26 de julho de 2018

Aqui


Aqui não é o mesmo lugar;
Aqui não é o melhor lugar;
Nem sei aonde fica...
Aqui.

Nem sei aonde fico;
Em qualquer lugar;
Entre o êxtase;
E o escuro.

Aquele lugar chamado adeus.

Aqui não é meu lugar;
Aqui não é teu lugar;
Não há sinal de nós dois...
Aqui.

Nem sei aonde ficas;
Em nenhum lugar;
Perto das rotas;
Longe de mim.

Aquele lugar chamado não mais.

Estive ausente daqui, minha casa;
Estive fora daqui, minha carne;
Em instanstes parti, partirei;
E é para cá que não volto, voltei.

Nas mãos, uma única mala.

E, nela, levo aqui.

Que não é meu lugar.

Um dia desses.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Hora de renascer


Deixa assim. Deixa estar... Melhor.
Tudo bem aqui. Trancafiado. É mais seguro.
Sem deixar resíduo nenhum. Nenhuma marca a mais.
Pra consolar quem está por... Fora.
Não há explicação nenhuma a dar.

Hora de renascer. Hora de repensar;
Esse silêncio não é pra você. Nem pra ninguém mais.

Honestidade já não basta.
Nem é a questão. Pois fui sincero, mas nunca intenso.
E o que resta, daí, é alguém que nem pode reclamar.
Quando quis atenção... Não soube trocar. Retribuir...

Hora de renascer. Hora de repensar;
Esse silêncio não é pra você. Nem pra ninguém mais.

 Quem pede presença, deve presentear
 A quem teme a carência, uma sala de estar.
(Estar).

Hora de renascer. Hora de repensar;
Esse silêncio não é pra você. Nem pra ninguém mais.

Canção. Uma década e pouco atrás.

domingo, 3 de junho de 2018

Cena 34


Interna - Loft bagunçado, às escuras - Noite
Três sujeitos sem importância. Conscientes dessa falta de importância no grande "organograma das coisas". Sem sutilezas. Apenas constatação. Frieza inoxidável.

CARA 1
Cansei de procurar. Porra... FUDEU.
CARA 3
Velho... CALA A BOCA. Um segundo, ok? Um segundo.

O CARA 2 apenas gesticula, com o pensamento a quilômetros.

CARA 1
Porra, meu... PORRA, MEU. Morremos!
CARA 3
Filho de uma PUTA. Costura a boca.

Há um balcão amontoado de tralhas. Restos de brinquedos retrô. Velhos utensílios colegiais. Papéis. Um relógio quebrado chama a atenção. Os ponteiros, parados, marcam 14:05. Entre os ponteiros, na face do relógio, algo rabiscado.

CARA 1
Eu vou... TÁ? Eu vou.

O CARA 3 range os dentes. Um animal atiçado por um chicote curto. Rosnando. Pronto ao ataque...
O CARA 2 ficara quieto e permanecera contido. Não dissera nada. Mas, súbito, retesa e estica o corpo. Altivo! Resoluto.

CARA 2
FUDEU! Fudeu, sim.

Alguns segundos...

CARA 2
Morremos! Fudeu. Não adianta! Eu vi uma garrafa de tinto ali em cima. Olha... ALI.

Ele aponta para uma prateleira desordenada a uns 30 metros.

CARA 2
Abre esse troço. Não tem mais nada.

O CARA 3, sem maior poder de reação, apenas segue a diretriz. Rolha arrebentada. Sons de asas, aos milhares. Goles. Direto na boca da garrafa. Asas intermináveis. Goles tensos. Calmos, sem explicação. Os três caras sem importância. Um bom Pinot Noir. Mais goles. Asas. A garrafa vai de mão em mão.

No relógio quebrado, entre os ponteiros, manuscrito: ACABOU.

Um último gole. Escuro.

Lá pelos idos de 2015.

Somos todos tormenta


A voz gutural;
Desse céu tempestuoso;
Nasce aqui;
Na mesa da sala;
No teclado;
Na pia do banheiro;
À beira da calçada.

Somos todos tormenta.
Conosco, ela tenta;
Sem ela... nós? Nada.

Outra gota que chega;
Charco em pleno asfalto;
Nossos olhos;
Ali no canto;
Na esquina;
Dobradiça rangendo;
Carne, osso e lamaçal.

Somos todos tormenta.
Que cai, corre e arrebenta.
É vida. É hoje. E é letal.

Foge uma folha;
Mil galhos desabam;
Nuvens e sal;
Rodopios sem fim;
Rei vendaval;
Só temos paredes;
Só temos telhado.

Somos todos tormenta.
E ela nem esquenta.
Fim. Prazo encerrado.

Somos todos tormenta;
O topo é igual à raiz;
Somos todos tormenta;
"Faz frio, fecha a porta";
Somos todos tormenta;
"Só o tempo é que diz";
Somos todos tormenta;
Porque não importa.

Não importa.

Maio de 2018

Vinte vezes


Algumas dores lombares recorrentes.
São pontadas no flanco. Às vezes irradiam o abdômen. Inúmeros momentos não me deixam dormir. Latentes e crônicas. Não me pertencem.
Sou brasileiro, sem plano de saúde, e sem a tenacidade do desespero.
Apenas perplexo com a crueldade do ser. A tirania do estar.
Fugacidade aleatória dessa DNA dança. Vontades corroídas. Desejos pela metade.
Eu já morri umas vinte vezes. Em pensamento. Na covardia.
Mas tenho em mim a dor das ausências. Até flertei com a frieza. Salpiquei um beijo na descrença.
No outro dia de sol, ardência. Perdas. Saudades. E o medo incisivo.
De ainda estar vivo.
Não merecer.
Estar aqui.
Melhor seria não.
Seria covardia.
Vinte vezes em pensamento.
A vida segue.
E as dores assustam...

Maio de 2018

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Isso é mentira


Havia algo no teu sorriso;
Na tua presença, nesse todo;
Que eu quis para mim;
Que eu precisei;
Uma equação, um elemento;
Uma parícula. Uma reação.
Para essa mentira que eu sou.

E isso é mentira.

Ontem é mentira;
Todos e quaisquer ontens são;
Mentira.
A verdade é calor.
É suor. É salgada.
É a dor necessária.

E isso é mentira.

Pois eu pensei há apenas alguns segundos.
E o tempo, AH! o tempo, não tem piedade.

Mentira.

Nova canção -19 de agosto de 2017.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Alcalóides


Seria uma pena, sangue. E versões menos uniformes de nossas necessidades. Psicoses requentadas.
- Um fino risco vermelho acobreado. Puta que o pariu... cheira mal.
Observar o curso da sarjeta. Ainda é água. Não tem mais importância. Perdeu-a. Ainda é água.
- Tempestades nos trópicos. Era assunto, até ontem. Hoje, a estupidez humana.
O silvo da chaleira quase anestesia. Um convite ao calor. Esquecimento alopático. Doses de não saber.
- Cacete! Cacete! A gastrite virou úlcera. Caralho. Ando pensando todos os dias em câncer. Sobra pouco tempo.
Ao abrir a gaveta, pequenos papelotes às mil dobras. Não daria para ler tudo. Vontade alguma. Mas parecem tesouros. Precisam parecer. Melhor nem ler.
"Ad augusta per angusta". Quase lá, quase, quase. Não fosse o torpor. Alcalóides. Jardins.
- Acorda. Ei. EI!!! Acorda!!! Filha da puta!
Foi uma faca. Foram os dedos. Palavras incongruentes? Os tais alcalóides. Etanóis. Sangue.
No último dia do mês de julho havia uma névoa estranha. Nada se via na rodoviária. Nem a leste, nem a oeste. Fazia frio. Cortante. Cena de cinema. Final de filme, anos trinta. Talvez anos vinte.
Mas todos os ônibus partiram no horário. Todos seguiram seu cronograma. Seu itinerário. Precisão irrepreensível. Fleumática.
Houve tão somente uma estranha exceção. Uma quase exceção. Um único carro que partiu no seu horário, seguiu seu caminho, e que, no entanto, partiu outra vez. E partiu novamente. E outra vez mais.
Outra vez. Outra vez. Outra e outra vez.
Diabo carregue. Pragas. Demônios.
Continua e continua a partir...

Hoje. Agora. Exato instante.

Ele está armado


Ele está armado. Testa suada. Mãos trêmulas. Dentes que rangem. Ele odeia espelhos. Ódio imenso. Vodka.
Três horas da manhã. Quatro. E as vozes misturam-se. Nenhum alô. Nada de "como vais"... Nada de mãos quentes ou línguas sagazes. Contato algum. Ele está armado.
Whisky puro. Nem gelo, nem água.
Seria nota de rodapé com tiques de manchete. Úlcera perfurada tratada à base de sonrisal.
A mesa cresce. Vira quadra. O bar some. É o mundo. No mesmo lugar. Nenhum passo adiante. Ele farfalha sem vento como se fora uma folha medíocre. Submissa ao clima. Frágil e passageira. Ele ri, nervoso, sem qualquer sinal externo. Sem descuido. Discreto, afaga o conteúdo do bolso.
Armado.
Voltas intermináveis ao redor do quarteirão, pisando em lama, cocô e grama. Sem sair. Sem andar. Os pés simplesmente não descolam do assoalho. Grudento, marcado e lotado de histórias. Uma dose de rum, é claro.
Onde começam tais contos? À beira do lago, quietude e isopor? No banco do trem? Talvez na tenra idade onde interrogações multiplicadas encontram o eco que lhes cabe. Suficiente ou não. Bem e mal.
Já é manhã. O sol fustiga. Todos à porta. Fim. O fim. Um fim. "This is the end. My only friend. The end." O tempo rui. Como magma. Como argila. Como a saliva dos amantes. Ele está armado.
O copo de gim? Vazio.
Hora de ir. “Grand finale”! Cadeiras sobre as mesas, esfregões em riste. Corpos modorrentos a levantar. Letargia e preguiça.
Sem perder tempo, o maluco cambaleia à porta e interrompe o movimento. Gritos hostis. Postura de homem-bomba. Mãos aos bolsos. Medo!!! Armado.
Tensão. Gestos bruscos. “O filhadaputa é traficante”. “É de rua e ‘tá’ com cano”! “Mendigo de merda”...
O dono do boteco leva os dedos ao 38! A arma sobe devagar.
O doido franze a testa. Refaz sua dança de rei lagarto e repete bobagens. Constrói legos desconexos. Repete encantos sem efeito. As mãos aos bolsos. O casaco gira.
Sol. Efígies. Reflexos. Luz turva. Olhos nublados. Manhã de sábado.
O louco vai tirando a mão do bolso. Lentidão. Eternidade. O bar man vai atirar.
O bar man vai atirar. E o louco sorri. Vinte dedos. Quatro membros. Cinco sentidos. Todos embargados. E a mão que sai do bolso. O bar man vai atirar.
Cinco, quatro, três, dois, um... O bar man...
... é impedido.
Testa suada. Mãos trêmulas. Dentes que rangem.
Uma mão serena impede o tiro.
Mãos trêmulas. Dentes que rangem.
A arma do louco?
Dentes que rangem.
Uma folha de papel.
Toda amassada.
Quatorze versos. Um soneto.
Paralisia coletiva. O desajustado alisa a folha com vagar religioso.
Ele tosse. Pigarreia. Ergue o “papiro”. E lê. Ele lê com fervor. Devoção. Um minuto. Trinta. Ninguém se move. Todos inertes. Doidos de pedra!
Lágrimas. Bocejos. Juras de eterno amor. O louco lê.
Olhos que fecham. Bocas trafegam. O louco lê.
Restos alcoólicos. Corpos tremendo. A leitura vai! Vai além...
Torpes horas em que os sentidos foram passear. Leitura.
Nada de vida. Elétrons gelados. Forças entrópicas. Finda a leitura.
Tortos ouvintes, um instante após, rumam às suas camas. Autômatos.
Passos mecânicos. Gestos em desconexão. Vozes plastificadas!
Virão as horas e nem vão lembrar. Nenhum deles vai lembrar.
Pobre do louco. Incompreendido. Desarmado. Quase alvejado.
Pobre louco...
Aaaaaah! O louco? Também não! Na boa? Ele também nem vai lembrar.
Pobre louco...
O louco? Ele procura outro bar!

Algum dia lá nos idos de alguns anos atrás.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Quisera


Quatro ou cinco metros;
Não é a distância de um braço.
Não dista um abraço.
Não muda o mundo.
Nenhum absurdo.

Quantos segundos num soluço?
Um rio não muda o curso.
Idas e vindas. Aqui. Agora.
Quem é que fica?
Quem foi embora?

Mais um sorriso. Menos tempo.
Faça o que for preciso.
Erga ao alto, um dedo.
A mão não vence o vento.
Você faz. Eu apenas tento.

Eram três. Era madrugada.
Talvez segunda. Diria nunca.
Talvez importe. Seria sorte.
Quem sabe um dia.
Alguém quisera. Alguém queria.

Fecho o envelope com algo de saliva. Depois esfrego os olhos, duas doses de sono. Vontade de não dormir. Vela acesa. Vontade jamais triunfa. Talvez segunda. Diria nunca.

Agora, Criado em pleno blog. ;)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Chove depois da meia-noite


Chuva na madrugada, chuva rubra, escura, turva...
...minha visão, Agora cansada... Errou a curva, não deu em nada.
A aurora, tão pesada. Dia cinza nasce e balança...
...ao sabor do vento, noutra alvorada. São duas manhãs, uma chance p’ra cada.

Chuva rubra, dia cinza... É só mais uma gota que cai.
Chuva rubra, dia cinza... Sinto na pele o frio que faz!
São duas manhãs e uma aurora tão pesada.
Chuva rubra, dia cinza... Aaaaaaaa! É tempo de paz.

Chove depois da meia-noite;
Fogem estrelas e roda o mundo... Roda sem parar...
Pois Chove depois da meia-noite.

Chuva rubra, dia cinza... É só mais uma gota que cai.
Chuva rubra, dia cinza... Sinto na pele o frio que faz!
São duas manhãs e uma aurora tão pesada.
Chuva rubra, dia cinza... Aaaaaaaa! É tempo de paz.

É tempo de paz. É tempo de paz.
De paz!

Música composta lá pelos idos de 2010.