domingo, 3 de junho de 2018

Cena 34


Interna - Loft bagunçado, às escuras - Noite
Três sujeitos sem importância. Conscientes dessa falta de importância no grande "organograma das coisas". Sem sutilezas. Apenas constatação. Frieza inoxidável.

CARA 1
Cansei de procurar. Porra... FUDEU.
CARA 3
Velho... CALA A BOCA. Um segundo, ok? Um segundo.

O CARA 2 apenas gesticula, com o pensamento a quilômetros.

CARA 1
Porra, meu... PORRA, MEU. Morremos!
CARA 3
Filho de uma PUTA. Costura a boca.

Há um balcão amontoado de tralhas. Restos de brinquedos retrô. Velhos utensílios colegiais. Papéis. Um relógio quebrado chama a atenção. Os ponteiros, parados, marcam 14:05. Entre os ponteiros, na face do relógio, algo rabiscado.

CARA 1
Eu vou... TÁ? Eu vou.

O CARA 3 range os dentes. Um animal atiçado por um chicote curto. Rosnando. Pronto ao ataque...
O CARA 2 ficara quieto e permanecera contido. Não dissera nada. Mas, súbito, retesa e estica o corpo. Altivo! Resoluto.

CARA 2
FUDEU! Fudeu, sim.

Alguns segundos...

CARA 2
Morremos! Fudeu. Não adianta! Eu vi uma garrafa de tinto ali em cima. Olha... ALI.

Ele aponta para uma prateleira desordenada a uns 30 metros.

CARA 2
Abre esse troço. Não tem mais nada.

O CARA 3, sem maior poder de reação, apenas segue a diretriz. Rolha arrebentada. Sons de asas, aos milhares. Goles. Direto na boca da garrafa. Asas intermináveis. Goles tensos. Calmos, sem explicação. Os três caras sem importância. Um bom Pinot Noir. Mais goles. Asas. A garrafa vai de mão em mão.

No relógio quebrado, entre os ponteiros, manuscrito: ACABOU.

Um último gole. Escuro.

Lá pelos idos de 2015.